A Ausência dos Pais na vida escolar e suas consequências.
O mundo capitalista no qual vivemos tem estimulado e consequentemente influenciado diretamente nas relações familiares. A necessidade de se obter o melhor para a família, a troca de valores baseada, construída em torno de uma visão capitalista, infelizmente sugere que “coisas são mais importantes do que pessoas”. Daí a situação frequente onde pais tentam compensar o tempo não gasto com seus filhos através de presentes, passeios etc. Enquanto sabemos muito bem que tudo isso nunca substituirá sua presença que gradativamente vai se tornando rara.
A visão que os pais desenvolvem da escola, também deixa claro sua escala de valores, ou seja, a escola muitas vezes não passa de uma empresa disfarçada ou fantasiada de creche e isto está diariamente tornando-se comum. Os filhos são lançados na escola e muitas vezes esquecidos por um transporte escolar que chega com algum tempo de atraso quase todos os dias. Por essas e outras razões, todos os dias são percebidas e diagnosticadas várias dificuldades de aprendizagem em crianças aparentemente saudáveis e normais.
Este artigo pretende mostrar a importância que devemos dar e tratar deste problema que é a ausência dos pais na vida escolar de seus filhos, alunos do ensino fundamental. Este artigo foi organizado a partir de uma pesquisa bibliográfica e tivemos suporte teórico de autores como Rolando O. Benenzon (1987), George Guilder (1996), Gérard Guillot (2008), Isabel Parolin (2002), Alícia Fernandes e outros.
Percebendo tal problemática, ou seja, a ausência dos pais, é que nos sentimos motivados a realizar uma pesquisa voltada para essa necessidade. Este artigo está organizado de forma sistemática em que relacionamos o assunto em destaque (A Ausência dos Pais na Vida Escolar das Crianças de Ensino Fundamental) com as questões ligadas à aprendizagem. É de vital importância abordar tal assunto, já que ele é tão presente em nossos dias.
Os Companheiros das Crianças e Substitutos dos Pais
Encontramos inseridos na rotina dos filhos, alguns substitutos dos pais, ou seja, substitutos da presença materna e paterna. A criança desamparada pelo pai e pela mãe procura parentes, empregados, vizinhos e amigos para interagir. Algumas vezes consegue compartilhar sua vida em outra esfera social, mas muitas vezes, vítima da negligência dos pais, cresce sem amparo e sem atenção. O uso de drogas ou álcool, o comportamento violento ou a prostituição são formas encontradas pelos adolescentes negligenciados para reagir ao sofrimento causado por essa rejeição (GOMIDE, 2005, p. 74).
Isso ocorre porque a necessidade de amparo, cuidado e atenção que as crianças trazem consigo muitas vezes não demonstra tão abertamente o que realmente elas sentem, ou seja, mascaram tais sentimentos por causa do comportamento dos pais deste século. Já que isso tem se tornado tão comum, resolvemos destacar alguns substitutos a seguir descritos:
Vídeo-game
Hoje em dia, diversas pessoas têm gasto boa parte de seu dia e de sua noite na frente de computadores ou de televisores, desejando alcançar o próximo nível de seus jogos. Sabemos que quando trocamos o dia pela noite, nossa produção sofre uma perda muito grande, uma vez que o cansaço baixa sobremodo nosso rendimento. Quando vamos adquirir novos conhecimentos se a nossa mente demonstra sinais de esgotamento físico e nervoso? Ora, se uma criança vai à escola com sono, a aprendizagem certamente será comprometida, pois onde ela encontrará disposição para aprender?
A noção de tempo é também um fator a ser observado. Atualmente, milhares de crianças utilizam a Internet para jogar e ou baixar jogos e ficam horas e horas na frente do computador brincando. O fato de brincar, de usar jogos como entretenimento é algo positivo, considerando-se alguns tipos de programas. Entretanto, o problema é quando as pessoas começam a perder a noção de tempo, trocando o dia pela noite e vice-versa, deixando de lado as atividades, responsabilidades, afazeres e permanecendo um bom tempo na internet, no Orkut etc. Os resultados são visíveis como crianças sonolentas em sala de aula, agressivas sem motivos aparentes, senhoras de si e de seus horários.
A Televisão
Além disso, temos outra agravante: a exibição e exposições dos menores ao sexo e outras apologias afins. A visão distorcida de liberdade é algo que também é presente nos dias de hoje quando é transmitida para o público adolescente através de telenovelas a falsa necessidade de fugir, sair de casa para conquistar um espaço onde se possa fazer de tudo sem ter que dar satisfações a ninguém.
As famílias desconhecem os efeitos nocivos que filmes e programas violentos podem causar para o desenvolvimento de seus filhos. Pesquisas dos últimos trinta anos são contundentes em demonstrar que as crianças e os adolescentes que assistem a muitos filmes violentos apresentam mais comportamentos agressivos que aqueles que veem poucos ou não assistem a programas violentos. Esse efeito da violência na televisão é muito mais acentuado em crianças que são negligenciadas e deixadas aos cuidados da “babá televisão”. Isso ocorre porque as mães permitem que outros personagens ocupem o seu lugar fornecendo modelos e valores a seus filhos, muitos deles, contrários aos seus desejos (GOMIDE, 2005, P. 80-82).
O Computador
Torna-se um grande problema quando achamos que conhecemos as pessoas e as pessoas nos conhecem, ou seja, hoje em dia é muito comum as pessoas assumirem uma falsa identidade, usando um nome falso, expondo uma fotografia de outra pessoa, dados irreais com a finalidade de se beneficiarem de alguma forma. Os jornais, revistas e telejornais noticiam com frequência pessoas que foram enganadas, usurpadas por redes de prostituição, pedofilia, e ladrões virtuais. Um instrumento que é utilizado para a aquisição de cultura, conhecimento e lazer também tem sido usado de forma nociva.
Segundo Alessandro Vieira dos Reis, analista de comportamento e game designer, o psicólogo da internet, Joseph Licklider, tinha como objetivo ou utopia, fazer uso da ARPAnet (um programa inovador do departamento de defesa dos EUA) para criar uma rede de comunicação que democratizasse o saber visando trocas, como o mútuo aprendizado de seus membros. Sua tese seria a de que pessoas conectadas poderiam instruir-se umas às outras à distância, criando assim o primórdio das atuais comunidades virtuais. Com sua popularização, ocorrida por volta de 1995, a internet saiu dos laboratórios universitários e adentrou empresas e lares. Para ser mais preciso, invadiu o cotidiano de milhões de pessoas no mundo (REIS, 2009, p. 31).
Algumas propagandas enganosas, mas atraentes, podem levar contaminação do computador por vírus eletrônicos os quais têm o poder de apagar seus arquivos e outras áreas. Pedidos de dados para criação de e-mails, blogs, orkuts etc devem ser encarados com muito cuidado.
Os Professores
Essa torna-se comprometida, queimando etapas primordiais no processo de aquisição de conhecimentos-chave para o desenvolvimento da criança como um todo.
Alguns professores que trabalham com crianças “esquecidas” pelos pais, já ouviram muitos de seus alunos a sutil proposta de serem adotados, de os levarem para casa etc. É muito interessante observar a postura dessas crianças que “gritam em seus corações” por presença paterna e por incrível que pareça isso atrapalha o processo de ensino-aprendizagem.
Os professores de certa forma não são preparados em sua formação para lidar com alguns problemas típicos da rotina de educador. Muitos desses professores se queixam de uma formação que não está voltada para a realidade do dia-a-dia escolar. “Sem critérios bem definidos para a implementação dos programas acabam sendo oferecidos, a título de formação continuada, cursos de curta duração, palestras e seminários que não têm o poder de acompanhar a evolução do professor nem de mudar a forma como ele trabalha.” (MARTINS, 2008, p. 54-61).
Os Amigos em Comum
Outra situação importante dentro da perspectiva das influências por parte dos amigos em comum é o contato com bebidas, drogas etc. algo a se refletir é como está a auto-estima de nossas crianças. Uma criança com baixa auto-estima pode ser uma presa fácil para aqueles que possuem grande tendência a manipular. “Quem tem uma boa auto-estima vai ser capaz de dizer não, porque não teme perder o apoio do grupo”, avalia Tania Zagury, educadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, especializada em adolescentes. Mas se a criança for insegura, não vai resistir ao primeiro ‘filhinho da mamãe’, acaba cedendo (ZAGURY apud VEIGA, 2000, p.71)
Segundo Veiga (2000), os estudos que avaliam a importância da auto-estima no bom desenvolvimento das crianças proliferam nos países desenvolvidos, onde os problemas básicos já foram resolvidos e é possível se concentrar nas angústias da alma. Ela ainda relata que no começo do ano 2000, pesquisadores da Universidade Harvard concluíram que, na dolorosa seara da anorexia e da bulimia, os distúrbios alimentares mais graves, a baixa auto-estima é um requisito essencial para a evolução da doença: toda menina obcecada em emagrecer age assim porque não se acha bonita e, se não é bonita, não vai conseguir arranjar amigos (VEIGA, 2000, p.71).
É bem verdade que, além dos amigos em comum, temos aqueles nos quais nos espelhamos como é o caso de atores, cantores e pessoas do meio artístico em geral. Atualmente, a mídia exerce grande influência na vida das crianças e adolescentes e por que não dizer sobre as pessoas de um modo geral? Isso tem gerado um padrão muito elevado de beleza, ou seja, um padrão em que muitos não podem se encaixar.
As Atividades Extra-escolares
O desejo de alcançarem o melhor para os filhos e de prepará-los para a obtenção de uma vida financeira estável não os tem preparado para a vida em si. Consequentemente, vemos hoje crianças e adolescentes dormindo em sala de aula, estressados, hipersensíveis também pelo excesso de atividades extra-escolares.
Para o aspecto cognitivo, ou seja, no que diz respeito à aprendizagem, o baixo rendimento é uma possibilidade a ser considerada. “sob o ponto de vista behaviorista, a pedagogia entende o aprendiz não como uma máquina de acúmulo de conhecimentos, mas um indivíduo único e modificado para o resto da vida” (SKINNER apud REIS, 2009, p. 37).
A ideia de que as crianças brincam e que devemos deixá-las brincar até se cansarem e depois elas dormirão, ainda permanece impregnada na sociedade de forma bem sutil. Logo, quanto mais atividades a criança tiver para realizar durante o dia, menos “trabalho” dará a seus pais, pois quando chegar a sua casa, irá descansar. É claro que no meio de toda essa discussão existem pais esclarecidos e criativos que mesmo com todas as responsabilidades e correrias encontram soluções para estarem mais presentes na vida de seus filhos. Por outro lado, a Agência de Notícia de Jornalismo Científico diz que as crianças que não brincam sofrem de falhas nas capacidades de interação social e valorização da auto-estima (PROGRAMADOS, 2009).
Os Avós
Infelizmente, vemos numerosas histórias iguais ou muito parecidas onde muitas crianças problemáticas, rebeldes e desinteressadas pelos estudos, sem postura alguma para aprender, para viver uma vida escolar plena, crianças perdidas dentro de si mesmas, onde suas escalas de valores estão totalmente invertidas, a um passo da marginalidade. O costume de pedir à mãe para ficar com o bebê ou as crianças menores enquanto vai ao centro, está vivo até nos dias de hoje. É certo que a necessidade existe, mas muitas necessidades transformam-se em hábitos. Os avós também precisam de descanso, mas infelizmente muitos filhos e filhas não percebem que a privacidade ensinada por seus avós, funciona também para seus pais e passam a semana entregando seus filhos a eles e nos finais de semana estão todos novamente na casa de seus pais. Alguns avós até gostam, no entanto com o passar do tempo, sentem-se cansados e sem condições para continuarem a cuidar de seus netos. Muitas famílias desestruturadas vivem em torno de seus patriarcas e matriarcas e vivem dependentes não somente no aspecto emocional, mas também financeiro.
As relações também são desordenadas e é muito fácil ver os netos chamarem seus avós de “Pai” e “Mãe” e não somente isso, mas vivenciando toda uma relação, um vínculo afetivo paternal. Na cabeça de uma criança, o relacionamento em que se misturam as funções de pais e avós pode desencadear uma confusão muito grande com consequências marcantes para toda sua vida.
As novas famílias, os novos padrões, os novos modelos familiares são reais e complexos e quanto mais complexos, mais surgem dificuldades por parte das crianças no que diz respeito à divisão mental dos papéis familiares, isso interfere diretamente na aprendizagem, na aquisição de novos valores. O fato é que quanto mais simples as relações, as divisões de tarefas, de responsabilidades parentais mais probabilidade de saúde emocional, psíquica, equilíbrio da autonomia pessoal.
As Domésticas
Por outro lado, alguns têm uma opinião diferenciada e dizem que a relação entre pais e babá é diferente de qualquer outra que envolve patrão e empregado. Babás veem os patrões de roupão, ensinam os filhos a comer, estão presentes em todas as festas de família. No entanto, são apenas relativamente distantes da família, sem vínculos afetivos. Assim, esse é uma convivência em que o emocional e o profissional se misturam a todo momento (AS BABÁS, 2010).
Nas telenovelas que têm como contexto histórico a época da escravatura, é comum observar as crianças e moças brancas chamarem suas serviçais de “Bá”, ou seja, as mulheres que cuidavam como se fossem mães dessas pessoas. Atualmente, é muito raro encontrar domésticas que inspirem confiança, pessoas que já estão morando por algumas gerações com famílias. A construção de vínculos é progressiva e profunda. A grande problemática é que geralmente essas pessoas tão queridas, são desprovidas de conhecimentos pedagógicos necessários para acompanhar essas crianças. Se possuem, durante algum tempo conseguem acompanhar as crianças nas tarefas de casa, mas quando essas crianças passam para séries mais avançadas, falta-lhes o suporte necessário por causa da formação limitada de alguns.
Crianças que Cuidam de Crianças
Uma grande porcentagem de acidentes domésticos ocorre com crianças no próprio lar, pois os cuidadores assumem a tarefa de preparar os alimentos, limpar a cozinha, cuidar das crianças, fazer as compras. E quando essas responsabilidades são impostas às crianças? Esse é um ponto digno de constante reflexão por parte de todos. Será que uma criança possui estrutura suficiente para cuidar de si mesma e de outras crianças? Cremos que a visão de responsabilidade de uma criança é bem diferenciada da visão de um adulto. Por exemplo: sua necessidade de brincar é algo permanente e com ela sua escala de valores. Por outro lado, existem aqueles que declaram que as crianças conseguem se adaptar bem à ausência dos pais, os quais precisam trabalhar fora para manter financeiramente suas famílias.
Segundo Veiga (1999), as crianças têm outra visão do assunto. De acordo com ela, as crianças aceitam que seus pais estejam fora de casa desde que mostrem e provem que, estejam onde estiverem, permaneçam sempre sintonizados com os pimpolhos e desde que no fim do mês ponham um bom dinheiro em casa. Tais informações são fonte de uma pesquisa realizada no mesmo ano nos Estados Unidos com mais de 1000 crianças e adolescentes entre 7 e 18 anos. O estudo foi feito pela educadora Ellen Galisnky.
Um fato comum que ocorre é se o casal possui mais de um filho e resolve deixá-los só em casa, o mais velho toma conta do mais novo, assumindo algumas tarefas que exigem o contato com coisas que apresentam certo grau de perigo. O filho mais velho encontra-se numa situação em que requer dele mais do que geralmente pode oferecer. Vê-se, invariavelmente, tendo de tomar decisões que caberiam somente a adultos.
Os Porquês da Ausência
Tentaremos explanar algumas razões dessa ausência. Destacaremos aquelas que estão diretamente relacionadas às dificuldades de aprendizagem apresentadas pelas crianças do Ensino Fundamental.
Segundo Pichon, a família é a estrutura social básica de um sujeito. Daí a importância que a escola tem dado à família de seus alunos e os terapeutas à família de seus alunos e aprendizagem. (RIVÈRE apud PAROLIN, 2002).
Fonte: https://psicologado.com/atuacao/psicologia-escolar/a-ausencia-dos-pais-na-vida-escolar-das-criancas-de-ensino-fundamental © Psicologado.com
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